quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Tirando a cobertura de açúcar da história, pero no mucho...

"Contos de fada são mais do que a verdade. Não porque eles nos dizem que dragões existem, mas porque eles nos dizem que dragões podem ser derrotados." Neil Gaiman
Eu tenho um defeito muito grande: pensar demais na vida, sim na vida, num contexto amplo, passado, futuro, presente, comportamento, pessoas que fazem parte do meu mundo, da minha rotina ou não, coisas que eu quero, coisas que não quero... Uma das coisas que me faz pensar muito é o que as pessoas que eu amo pensam de mim e da nossa relação. E muitas vezes eu me pergunto como eu poderia ser uma melhor namorada, amiga melhor, filha, enfim... eu queria ser melhor. Mas como a opinião das pessoas é muito diversa é complicado ter uma referência. É claro que eu não tento ser exatamente como as pessoas gostariam, mas eu sempre pergunto se tem alguma coisa que eu poderia melhorar sem ferir o que eu acredito ser o correto e que faz parte de mim. Para ser melhor para algumas pessoas que eu amo eu já deixei de pertencer a vida delas, por sentir que eu não podia aceitar uma situação ou opinião sem me ferir, ou ferir a pessoa... eu peguei as minhas coisas e fui embora. A gente sabe o limite da gente. Insistir nem sempre te faz um vitorioso, só mais teimoso.


Algumas amigas me consideram uma pessoa independente. Olha que eu apoio... rs. Eu trabalho desde os 16 anos, tirei minha carteira com o próprio salário, eu pago minhas contas, ajudo nas contas de casa, compro as coisas que eu tenho vontade, divido algumas contas com o namorado (que não me deixa dividir tudo... amo), estou em outro país trabalhando (tenho 5 meses de formada). É... eu fiz muitas coisas não pagas também, mas isso não me tira o mérito de fazer, porque é sinal que eu aproveitei uma oportunidade, primeiro que nem todos tiveram, segundo que nem todos batalharam ou quiseram... fiz um curso técnico gratuito, consegui uma bolsa para fazer a faculdade. E eu acho que as minhas amigas têm razão, eu sou independente! Com 26 anos eu não tenho muita coisa (a vida podia ter sido mais fácil, eu podia ter formado antes, mas as oportunidades foram essas e eu agarrei todas que eu pude, com todos os “se”... ), mas posso decidir o que eu quero, o que eu gosto e o que eu do conta, sem ter a obrigação de consultar alguém ou deixar de fazer o que eu amo.

Algumas pessoas acham que eu sou meio bela adormecida, deslumbrada, pouco envolvida com o feminismo e questões políticas. Pode ser também. Eu odeio política mesmo, e ninguém nunca me ensinou a gostar, achar que ela é importante é outra coisa, respeito a história das mulheres que lutaram e ainda lutam por uma posição mais igualitária dos gêneros, mas eu detesto o radicalismo de alguns grupos e o boicote a quem conserva a ilusão ou o sonho (questão de interpretação) de ainda acreditar na família e numa vida compartilhada, que pra mim não quer dizer deixar de ter individualidade, nem se anular. Gosto de cozinhar coisas diferentes, mimar meu namorado, quero viver um grande amor com ou sem direito a bolo de casamento, fotos e filhos. Eu quero ter uma família, quero ter um trabalho sem ter que me matar por ele, eu quero aprender a viver de forma mais tranquila e saudável (dentro dos meus parâmetros pouco natureba). Eu não pretendo ser uma dona de casa, e nem vejo isso no meu futuro, mas se isso for inevitável eu seria. Sem traumas. E se eu for feliz indo contra tudo que o feminismo torto que essas mulheres pregam eu vou ser. E se não acontecer nada do que eu gostaria eu ainda quero ser feliz, torcendo pra não ficar rabugenta.

Essas senhoras da “geração sex and the city” agem como se mulheres dessa idade também não caíssem em contradição , nas mesmas armadilhas e nos mesmos sonhos que envolvem essas meninas de vinte e poucos, algumas tem tantos machismos e pudores descabidos que da vontade de gritar que esse negócio de emancipação feminina é balela, porque algumas mulheres simplesmente não evoluíram nadinha. É claro que tem coisa gritante, na vida real tem muita mocinha procurando o príncipe encantado, mas se ele não for tão príncipe tudo bem, porque ela também já não é tão mocinha e acha que não pode ficar escolhendo muito. E tem aquelas que levam os “direitos iguais” tão ao pé da letra que já são “quase homens”. Se você quiser casar e ter filhos, case. Se você concordar que o sistema familiar está falido no modelo de hoje, inove, more em casa separadas. Se você quer só amigos e fincantes, tudo bem. Se você achar qualquer estilo de vida, mesmo fora do padrão, que se encaixe no que você procura, seja feliz. E nem precisa adotar um só, você pode ser independente, ter sua profissão e querer ter uma família. Uma escolha pode dificultar a outra, mas não é exclusão. Muitas mulheres se casam iludidas com uma vida de conto de fadas. Mas muitas mulheres também se iludem com o glamour da independência. E todas pagam o preço da vida que levam.

A vida de ninguém é simples e nem perfeita. E não é fácil aceitar que os outros não achem o máximo a vida que você está levando. Ainda mais quando você olha aquela amiga dependente que não sai sem o namorado, que segue ordens, que não é livre financeira e psicologicamente. Triste? Pra mim é. Mas a gente também tem momentos que as amigas não passam e não invejam, fica longe da família, do namorado, segura muita barra sozinha. Mas mulher é mulher. A gente também é frágil, carente e cheia de dúvidas, também tem celulite, estrias, e algumas de nós querem casar. É tudo questão do que a gente acredita, de história de vida, de arriscar... Tente não se iludir, faça uma escolha consciente, se no final o seu saldo for positivo você está liberada pra sorrir, se não... você está livre para mudar de opinião. E que bom que é assim. Faça o que te realiza. Eu acho que a grande sacada da liberdade que a gente tem hoje é a opção de escolha e grande número de possibilidades. Cada um na sua. Pra defender a sua opinião você não precisa esculhambar o estilo de vida dos outros.