segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

“Adequação e liberdade simultaneamente? É uma senhora ambição”. (Martha Medeiros)

"Benditos os que conseguem se deixar em paz. Os que não se cobram por não terem cumprido suas resoluções, que não se culpam por terem falhado, não se torturam por terem terem sido contraditórios, não se punem por não terem sido perfeitos. Apenas fazem o melhor que podem." Martha Medeiros
 
 
  A gente vive e aprende que é diferente. Ponto. Ninguém é igual. Que bom.
  Mas até chegar nessa fase são muitas perguntas, muitos os questionamentos e muito sofrimento para tentar ser normal, ser padrão, ser aceito.
  Depois vem a fase de achar seu grupo, de se rebelar contra o que é dito como correto de quebrar paradigmas, de “causar” (pra mim isso é coisa de quem não tem força pra encarar a vida ou é muito ingênuo) ou de aceitar as regras e começar a jogar (o que é patético). Ou perceber um equilíbrio (raro... muito raro).
  E depois??? ... cai a ficha. Não tem como escapar dos padrões. E os padrões num lugar como esse vão ficando tão pequenos que quase não cabe mais a roupa que a gente queria usar.
  Internamente a gente pode ser outra pessoa, não concordar com nada disso. O sistema pode não fazer parte de você, mas você faz parte do sistema. Você consome, mesmo que seja o mais ecologicamente correto. Você trabalha e indiretamente apoia muita coisa que nem sabe que existe, não acredita e não apoia.
  Quanto maior a sua adequação em sociedade, menor a liberdade para tomar decisões diferentes, sozinho, fora dos padrões, para viver a sua experiência.
  Quanto maior sua liberdade em viver do seu jeito, menos adequado e mais excluído você é.
  Algumas pessoas talvez te admirem, enalteçam sua coragem, mas quando o bicho pega, foi só vc que atirou a pedra companheiro.
  Com o tempo talvez você ache o padrão legal e possa ser feliz com ele.
  Trabalha e aprendeu a gostar do emprego (ou não, mas trabalha msm assim), compra roupas bacanas, seus filhos tem tudo que você não teve... você dá duro, não deseja mal para ninguém e faz suas orações, então tudo vai dar certo. Né?
  Com o tempo a gente aprende que tem limite e regra pra viver em sociedade, mas que nem todos chegam na felicidade pelo mesmo caminho e que não agredir o espaço do outro não quer dizer ser igual a ele.
  Eu já sofri muito ter opiniões tão diferentes, já sofri por não consegui me desvecilhar de algumas coisas que para mim são desnecessárias.
  Já sofri por ser mulher, por ter uma sexualidade, por ser sincera, por querer mais que uma casa e filhos para cuidar, por não ter medo de sentir, por não ter medo de escrever, por não ter medo de dizer, e sobretudo por não ter medo de mostrar o que eu sou, o que eu sinto ou o que penso de mim e dos outros, na poesia, nos textos, no blog, na vida, na cara e na lata.
  Eu tenho coisas muito próprias, eu falo coisas que as pessoas não contam (mas eu também tenho segredos), eu me exponho mais do que deveria, eu defendo pessoas que não merecem, eu critico pessoalmente (isso mata), eu falo em meu nome e muitas vezes falo sozinha, eu escrevo sobre sentimentos universais e muitas vezes sou mal interpretada. Às vezes eu queria ser diferente, para me sentir mais amada e popular, mas essa vontade só dura alguns segundos. Na maioria das vezes eu as acho as pessoas fúteis, lentas e grossas e eu agradeço por ser um pouco diferente delas. É claro que eu também adoro maquiagem, é claro que quando envolve muito dinheiro meu cérebro trava e eu me sinto burra e é claro que na hora da raiva eu posso ser uma porta. Mas eu agradeço realmente por poder me questionar e escrever (contra-resposta).
  Peço desculpas à todos que não consigo agradar e mais desculpas por que continuarei não agradando (fazer o que?). Mas as mais sinceras desculpas são para as pessoas que eu amo e que não consigo deixar de magoar. Mas é assim, que não sou perfeita. E o nosso trato é esse: A gente se ama, a gente confia, a gente erra, a gente se deculpa, a gente sofre e se acolhe. Sempre assim mutuamente e quando já não for assim que você não me procure (e me avise para eu não te procurar), por que relação unilateral não me basta, não me alimenta.
  Não sou totalmente livre e nem totalmente adequada, nem estou em equilíbrio... vivo oscilando de um lado a outro, buscando o melhor caminho em cada situação. Muitas vezes eu erro, machuco pessoas sem querer e faço coisas que não faria novamente (muitas vezes não chego a me arrepender totalmente).Ainda tenho muitos defeitos e o mais grave deles é ter perdido o medo de não ser aceita, porque eu posso simplesmente virar as costas e voltar de onde vim. Eu tenho pespectivas, eu tenho muitos sonhos e tenho pessoas esperando a minha volta. A minha libertação é saber que eu posso escolher não sofrer. 


"A vida não é um questionário de Proust. Você não precisa ter que responder ao mundo quais são as suas qualidades, sua cor preferida, seu prato favorito, que bicho seria, Que mania de se autoconhecer. Chega de se autoconhecer. Você é o que é, um imperfeito bem-intencionado e que muda de opinião sem a menor culpa. Ser feliz por nada talvez seja isso." Martha Medeiros