Todas as poesias apresentadas nessa página são de minha autoria, Natália Souza, e fazem parte do livro "Versos de Silêncio". Se você gostar pode me prestigiar comprando no site da editora Protexto (http://www.protexto.com.br/).
Só peço que se for copiar alguma, cite a autoria e a fonte.
Muito obrigada.
Boa leitura.
VERSOS DE SILÊNCIO I
Árvore que assombra a sombra de saudade
diz-me com que versos se canta uma paixão,
que eu por mim, não sei se por tolice ou por idade,
só sei que ando e deixo lágrimas no chão;
Em meu caderno tanto verso triste,
tal como eu, que mesmo rindo sofre.
O mundo é vasto e não sabe que ele existe,
meu coração se transformou num cofre...
O guardo sobre grandes mágoas,
onde a poeta prendeu minha ilusão.
E os meus olhos já não vertem águas,
quedam fechados ante a escuridão;
Tua imagem se desenha em minha idéia,
volta a vontade de ter, esquecer sua partida...
A chuva cai, eu choro sem platéia.
Versos de silêncio codificam minha vida.
VERSOS DE SILÊNCIO II
Que são meus versos quando
sorri a tua boca amada,
quando ela canta a letra enamorada
de outra triste como eu que sofre;
Queria os versos que
contassem isto que sinto,
na alma sonhos vivem o que eu minto
e outros morrem de sofrer assim;
Queria os versos,
que pagassem essa tortura,
beber a taça cheia de loucura
e ser feliz com o que sobrar de mim;
Mas de nada servem
esses versos roucos,
se eles falam tão bem aos outros,
mas em mim se fazem novamente mudos.
FERIDAS DE LUZ
Nascestes ante
a impotência do falar,
transformastes em vício
o híbrido prazer;
Nascestes do tempo,
do dom de esperar,
transformastes em dor
o pensamento;
Nascestes do remorso,
de muito amar,
transformastes em versos
toda minha vida;
Nascestes assim...
de diversos abandonos,
e assim nasceram segredos
que mesmo aqui se escondem.
POEMA QUE EU NÃO SEI SE FIZ
Não sei quanto de ti carrego em meu peito
ao escrever frases, alucinada...
mas em cada verso me deleito,
e é tua imagem que vejo estampada;
Ao entardecer o coração se curva, ante as mágoas
de um mundo de quimeras, do poema preferido...
no fundo a ilusão se esvai em águas,
mas em mim o achado é já perdido;
Deixo-me dormir ao som que embala esta doce agonia
de ver fugir-me sempre a tua imagem,
que torna em linhas esta minha covardia;
Não sei se o que faço é arte, ou apenas delírios que vivi,
mas cada verso que eu te faço é uma parte
que chora a dor de um soneto, que nem sei se eu escrevi.
QUISERA VOLTAR...
Quisera estar no topo e nada ver
além da imagem que a ilusão pode criar.
Deitar ao rio um barquinho de papel
e acreditar que nada o pode afundar;
Ser a princesa que espera e crê
que mesmo a vida pode se encantar.
Na mesma ânsia de um jogador,
com a certeza de quem quer ganhar;
Ter as palavras de um trovador
que chora e canta o verso popular,
inebriando a todos com ardor,
emocionando a quem pode escutar;
Quisera eu... não ter a voz
que atordoa meus sentidos.
Arrancar do peito a dor,
fingir que é nada isso que sinto.
SEM PALAVRAS
Não mais escrevo um só verso,
a minha boca emudeceu...
Meu olhar perdeu o brilho
depois que tive o beijo teu;
Nada mais tem importância
nessa vida tão amena.
O luar não tem perfume,
a poesia é tão pequena...
Nada diz isto que sinto
neste peito entre soluços.
Nada explica esta saudade,
nada muda o meu luto;
Não mais me agrada o dia
e não há música que eu cante.
Só me alegro na lembrança
do teu beijo, lindo amante.
PARTE OBSCURA
Eu não sou poeta,
eu não sou flor,
sou ferida aberta,
sou resto de amor;
Eu não sou discreta,
não tenho pudor,
sou palavra certa,
sou... a própria dor;
Já fui teus olhos
e um falso beijo,
fui reprimida,
fui teu desejo;
Não sou concreta,
não tenho calor,
sou rua deserta,
sou parte do horror;
Espero quieta,
não peço clamor,
durmo desperta
por teu rancor;
Eu sou a coisa
que provoca o medo,
sou tua loucura,
sou teu segredo.
QUANDO
Quando à noite cai sobre a terra
e a lua beija a fronte dos puros,
escorrendo pelos olhos pacatos,
se perdendo por entre os muros;
Quando a angústia inesperada
brotar em meio as flores
serás alvo de lembranças suspensas,
de sonhos que já não tem cores;
Quando a dor for tão intensa,
que na mente não lhe reste calma,
serás feliz por eu já ser uma plantinha
com raízes fincadas em sua alma;
Quando, em um dia de delírio
a cólera espumar em sua boca,
minha presença te trará repulsa,
minha ausência neurose, e eu ainda serei a louca.
AMOR INCONDICIONAL
Bem quisera dizer-te
o frio que faz
nas noites de angústia
em que tu não estás;
Com palavras bonitas
em fita lilás,
dizer-te entre beijos
o bem que me faz;
Bem quisera dizer-te
coisas triviais,
publicar que eu te amo
em famosos jornais;
Com gritos silentes,
contar-te sem proferir,
todo amor que eu tenho
ao fazer-te dormir;
Bem quisera dizer-te
num simples sorrir,
sou capaz de amar-te,
mesmo que não possas retribuir.
QUIMERA
Que meus braços
sejam laços
para enfeitar
e não prender;
Que meu corpo
seja o porto
onde mora
o teu querer;
Que meu pranto
seja o manto,
que te cubra o desencanto
e não te deixes me esquecer;
E meu beijo...
mais desejo,
até que eu
morra de prazer.
ESTRANHO DESEJO
Por que teu peito soluça
e não me repulsa
se já não queres me ter?
Por que tua pele arrepia
quando minha língua fria
percorre teu ser?
Por que me olhas com fome
e depois me consome
se nada lhe desperto?
Por que teus dedos
procuram segredos
até no meu corpo coberto?
Por que teus olhos trazem veneno
se é meu peito sereno
que tu escolhes como porto?
Diga que não me ama.
Deixe minha cama...
estará morto teu corpo.
SINA
Você não sabe
dos meus beijos,
o meu corpo
tem desejos
que não lhe contei;
Você não sabe
dos meus planos,
em meio
aos desenganos
eu me criei;
Você não sabe
da verdade
e cultiva
a vaidade,
o que sempre detestei;
Mas é para você
que volto,
depois que
me revolto
com o que nunca encontrei.
DOR DA SOLIDÃO
Teu olhar não é mais que a saudade
perdida nas minúcias desse drama.
Tantas lágrimas me custa a liberdade,
quanta dor há no vazio dessa cama;
Ainda sinto o peso do teu braço
que pousou sobre minhas costas nua.
Apodera-se de mim um fogo vasto,
como dantes, mas hoje divido-te com a rua;
Mais leve... faz-me o vinho e teu sorriso
que bebo num sôfrego feitiço
de encontrar-te no meu beijo, enamorada...
Mais doce... a palavra, a poesia...
Versos que brincam com a distância.
Ilusão de um dia ser amada...
AMOR EM SOMBRA
Amor, não posso
sequer dizer teu nome.
Nem mais sonho
que és meu;
Imagino-te...
Apenas sorrindo
com esta boca
que nunca me pertenceu;
Pego-me às vezes
pensando besteiras.
Lembrando da noite
em que me apareceu;
Depois que
fui tua amante,
meu beijo errante
não mais te esqueceu.
CORPO VENCIDO
Qual folha perdida na tempestade
a emoção se arrasta na noite inquieta.
Se instala a sombra, a certeza da impiedade
do teu coração, que em meu peito aperta;
Tomado por medo, do mistério, da saudade...
meu corpo queda em teu braço, já vencido.
Teu silencio torna em dor minha ansiedade,
meu pudor em sua boca esquecido;
Perdida no anseio, a língua negligente,
procura o beijo que entorpece, sinto ardente
na lágrima guardada. Imensidade...
Palavras que enganam meu ouvido,
olhos fechados, um sopro, teu gemido...
sentir-te em ondas de desejo. Liberdade...
INCERTEZA
É vão tanto querer
se longe vai o teu olhar,
mas tão alto é o desejo
que guia este amor que me envolve;
É triste ser o que sou
se o que procuras vai além
do que podes enxergar
nessa triste criatura;
Insano desejo que me toma.
Ser dona de todas as palavras
e incapaz de proferir o que em mim passa;
Ingrato este doce sofrimento
que aumenta na dor
de adivinhar-te o pensamento.
PALAVRAS ESTÚPIDAS
Tudo lá fora é silêncio, madrugada ainda.
A noite demora a se despedir.
Talvez ela não tenha lugar de ficar,
ou como eu, ela não saiba aonde ir...
Sentada na cama por horas
eu corro o mundo e o mundo corre de mim.
Olho o relógio e procuro o momento
em que sai do início pra te perder no fim;
É tudo tão confuso na minha cabeça,
quando mais se precisa se deixa de amar.
É triste sonhar em esquecer
e acordar com a boca a amargar;
A saudade é uma luz que reflete
a tristeza que sinto por aqui não estar.
Em meu peito a poesia floresce
e se queda molhada na folha que eu hei de rasgar.
AMOR VIRTUAL
Um mundo nos separa,
uma tela nos aproxima,
palavras flutuam,
dissolvem o sono,
brincam com a distância,
criam imagens e tornam possível...
tê-lo entre os braços,
entre os sonhos , entre beijos solitários;
Os cabos nos ligam,
conectam nossas vidas,
aproximam nossos corações
e nossas almas.
E o mistério de não vê-lo
me faz desejá-lo mais...
desejar tuas palavras, desejar tua amizade,
desejar conhecê-lo, desenhar teus pensamentos;
O brilho que tuas palavras emitem
me faz imaginar teus olhos
como estrelas que na noite fria
se tornam mais bonitas e admiradas,
transformando o branco da página
em um azul majestoso, faltando para o céu,
apenas a lua cheia e soberana
que se esconde deste lado da tela.
CORAÇÃO PERDIDO
Algo em mim morreu...
é como se o luto fosse eterna penitencia.
Como se o riso fosse a mesma decadência
de tristes erros vividos em mim;
Em mim se perde...
toda vida, todo encanto,
fica meu corpo estirado num canto
da cama imunda, do meu eu maltratado;
Ficam teus olhos, mas estes não me compreendem,
sobra força para a dor que meu peito sente,
para a ausência de cor que em minha boca exala...
Coração perdido... falta amor, mas meu peito cala.
INÚTIL
O que são as horas ao teu lado
ante o mistério do teu triste olhar
que cobre toda uma multidão?
O que são os dias que te espero
ante a certeza do frio que cerca
a eterna e infinita solidão?
O que são os anos que me restam
se já não tenho em meu peito
o calor que envolve a tua mão?
De que vale o tempo se ele não cura esta chaga,
se a dor é um mal que se alastra,
a tomar por inteiro meu coração?
VIDA VAZIA
Nada mais resta
que a boca murcha
e a paixão gaúcha
que eu guardei;
Nada mais resta
que muitas estrias
e as noites frias
que atravessei;
Nada mais resta
que o relógio, o medo
e alguns segredos
que eu não contei;
Nada mais resta
que o velho laço
e o ultimo abraço...
que eu não dei.
ILUSÕES QUE A GENTE PLANTA
Era só um corpo, eu o fiz escultura.
Escondi seus buracos com minha pintura,
não medi esforços para me enganar;
Era só a vida que eu tornei pequena,
travaram-se lutas, eu me fiz serena.
Eu fui as flores do teu altar;
Era só o mundo, eu fiquei a sós.
Já não era eu e tão pouco nós...
Eu fiquei no claro para ele poder sonhar;
Era só um homem, eu criei um deus.
Eu disse: eu te amo, ele disse: adeus!
E saiu-se rindo sem para trás olhar.
LÁGRIMA BRANCA
Minha vida se perdeu
em algum lugar da madrugada.
O sol que um dia se rendeu,
deu-me a mais triste alvorada;
Não há mais música que eu cante
pois que estou oca por dentro.
Em meus olhos o levante,
em meu peito rompe o vento;
Em cada lágrima que cai
o verso logo se declina.
O amor ao longe vai
e consigo leva a rima;
Mudo meus lábios,
imóvel minha mão...
Deixo a poesia aos sábios
pois já não tenho coração.
SEGUINDO ORDENS
É preciso morrer...
Esta angustia que o peito
encarcera e revive
a cada momento;
É preciso esquecer...
Essas dores que tornam
as noites tão turvas,
vazio tormento;
É preciso entender...
Mas o sentimento
se faz tão esparso
com o tempo;
É preciso viver...
Mas a dor é tão grande
que nada entendo ou esqueço.
Mata e obriga a viver.
INSANIDADE
Neste mudo sofrer ditado por ti,
é onde são mais doces
as lágrimas que caem
desses loucos olhos meus;
Nesse solitário desejo
que me dilacera o ventre
e me faz rolar de dor;
Nesse desespero ímpar
de quem se cola ao telefone
e busca uma resposta;
Neste quarto vazio
é que eu te busco,
é onde te encontro mais presente.
É onde nunca estás...
SEGREDO
Voltar, retroceder,
ao caminho partido,
ao ponto rompido,
ao que já foi,
pelo nome esquecido,
pelo desejo perdido,
pelo que nunca será.
Como o tempo vivido,
como um sonho querido,
assim se faz,
de desejo contido,
do medo escondido,
dessa nossa re-volta.
Esse amor reprimido,
esse olhar proibido
que ainda sente a sua falta.
APOCALIPSE
Os pés sangram
por muito caminhar.
As pernas cansam,
sem hora para parar;
A barriga fica a doer,
a carne a latejar,
o peito está a arder,
o coração, nem sinto pulsar;
A boca sangrenta
fica a amargar.
A língua lamenta
não pode calar;
Os braços se elevam,
os olhos teimam querer fechar,
os pensamentos se preservam,
para a mente acalentar;
A alma se confessa,
com um anjo decadente.
O sonho se faz promessa,
mas, o céu é inexistente.
MEDO
Gritos na rua,
súplicas silenciosas,
agonia no apelo,
risos de delírio,
horror nos rostos,
sede de acaso,
silêncio, descaso,
restos do abandono;
Olhos em chamas,
lamentos perdidos,
bocas inflamadas.
sonhos reprimidos
guardam beijos áridos
e corpos fuzilados
na guerra interior;
As pernas são ágeis,
mas o algoz é alado
e o castigo certo.
A audácia nasce com a aurora,
cresce com a ameaça
e morre com o açoite.
O asco se revela na mente abalada
que desconfia do novo.
ALIENAÇÃO
As crianças choram,
soluçam por uma partícula de pão,
mas meus ouvidos são indiferentes,
aos problemas da nação.
Olhos sem brilho,
futuro, um sonho em vão,
cada dia é vivido
sem um pingo de emoção;
O preconceito governa
a alma de cada cidadão,
e o povo ainda fala
na globalização;
As guerras escandalizam,
trazem indignação
mas, enquanto houver ambiciosos,
a paz será pura ilusão.
Corpos estendidos,
cheirando a podridão,
mas o verdadeiro cadáver sou eu,
que me alieno à situação.
FILHO DA CULPA
Os olhos cultuam,
os beijos flutuam
ao vento remoto.
A carícia cedida,
a carência perdida,
silêncio, remorso;
A incerteza da rua,
a luz branca, nua,
o delírio não provado.
Na espuma do mar,
o brilho manso do luar,
um sonho salgado;
As manchas apagadas,
as dores afogadas
em um bar da esquina.
Fugirá o pastor de almas
a procura da calma,
que outra vez se contamina;
O pecado seduz,
o desejo conduz,
e as vozes gritam sem pudor.
A razão abandonada,
jovem mãe amargurada,
nos braços um ser gerado sem amor;
Em seu colo materno
estabelece o laço eterno
e a felicidade amarga.
Se encanta com o sorriso angelical
mas agora é real,
será sua esta carga.
REVELAÇÃO
Com meus passos lentos,
percorro teu corpo,
numa trajetória mágica;
Mergulho em teu olhar seco,
e analiso teus desejos,
com a pretensão de os realizar;
Numa louca ânsia
devoro sua boca,
sem forças para parar;
Com imensa sede
sugo a seiva
que derrama em seus poros;
E com furor,
me embriago com a vida,
que corre em suas veias;
Um querer louco
me faz perder o resto da lógica.
Então me delato.
QUEM DERA, EU FOSSE
Quem dera,
eu fosse um anjo de luz,
para te trazer paz
e te deixar serena;
Quem dera,
eu fosse um raio de sol,
para iluminar seus olhos
assim que um temporal
de lágrimas
ameaçasse cair;
Quem dera,
eu fosse uma singela borboleta,
e ao passar por ti
levasse em minhas asas toda a tua dor;
Quem dera,
eu fosse um poema de amor,
grande amor,
que conseguisse
tocar seu coração
e fazer você chorar de alegria;
Quem dera,
eu fosse uma canção
que te trouxesse
boas recordações;
Quem dera,
eu fosse uma folha de papel,
pois sinto que só assim
poderia me considerar
sua amiga.
ESQUECEREI I
Um dia esquecerei...
tudo deve ser esquecido.
Um amor que se lembra
já não pode ser vivido;
Esquecerei toda dor
e minha grande solidão,
Esquecerei o tempo perdido
e a mais nobre ilusão;
Esquecerei aquela noite
e tantas outras que tivemos,
já que não cabe no papel
todo amor que escondemos.
ESQUECEREI II
Esquecerei aquela noite
em que me deixei te amar.
Amei teus grandes olhos,
qual mar a se agitar;
Amei tua mão que em meu rosto
pousou tão quente, tão serena...
Amei tua lágrima e o gosto
daquela gota tão pequena;
Amei os versos que te disse,
e mesmo os que não te fiz,
pois numa noite tão triste
tu me fizeste feliz.
MADRUGADA
Ao longe, no infinito da cidade
se esvai o riso que entristece.
A face tua, louca de saudade,
queda no anseio, empalidece;
E por ficares só nesse dia frio,
ao som da tarde nebulosa,
percorre o corpo longo calafrio,
que se perde ante a metrópole ruidosa;
Cerram-se os olhos e a oportunidade
de fazer da manhã uma semente.
Ao despertar a verdade
quedam-se as ilusões docemente;
E eis que perco a fantasia
de viver da lembrança enfurecida.
O que um dia foi agonia
é nada mais que a continuação da vida.
QUANDO PASSAS
Não sei o gosto de sua boca,
não tive o privilégio
de sentir a maciez
de seus lábios;
Não tenho em meus ouvidos,
a melodia de sua voz
a me falar doces palavras;
Não sei a intensidade
de seu abraço carinhoso,
não sei como é deitar
em seu peito acolhedor;
Não tenho em meus pulmões
o ar que contém o seu aroma
envolvente, um tanto quanto afrodisíaco;
Só sei que quando passas,
leva um pedaço de mim
e deixa em meu coração saliente
uma louca vontade de pedir que não vá.
PARA TE TORNAR MAIS PRÓXIMO
As folhas caem sobre meus pés
que não se incomodam
com esse peso singular.
O sol brilha muito,
mas não carrega a mesma luz
que contem o seu sorriso;
As flores fazem súplicas
que não são ouvidas.
Os ruídos da rua
são muitos e abafam
os gritos mórbidos
deste meu silêncio louco;
O vento, com todo seu frescor,
em mim só provoca arrepios.
Traz uma sensação de dor,
uma angústia crescente.
Ao passo que não te tenho,
a tortura se faz maior;
À sombra de uma bela quaresmeira,
escrevo estas linhas,
não tão esplêndidas
quanto as de Florbela,
mas na simplicidade
de quem quer te tornar mais próximo.
DA FORMA QUE EU BEM ENTENDER
Sinto sede de ti,
então bebo minhas lágrimas
que traduzem saudades
dos momentos que te tive.
Nada é tão amargo
quanto estas cristalinas lágrimas,
mas eu as bebo mesmo assim,
pois elas transportam
um pouco da tua essência,
da umidade de teus beijos
para dentro de mim.
Faz com que um pedaço,
ora grande ora maior ainda,
de teu se esplêndido
entre em contato com minha alma.
Te tenho então por instantes,
mesmo que você não permita.
Para te ter me basta a vontade,
te quero como eu quero querer ,
não importando como tu és de verdade.
MULHER FASCINANTE
Tudo que ela tem é bastante,
ironia é qualidade nela constante.
Mendigando em beira de estrada,
se comportando como bruxa ou fada;
Faço tudo que ela quer,
pois a amo, bendita amiga, linda mulher.
Mesmo que ponha minha alma perdida,
ou minha carne dolorida;
Me rebaixar a faz feliz, mais forte.
Mesmo que falem, suportarei até a morte.
Não há defeitos, ela é perfeita,
mulher que por mim foi eleita;
Quando me vê chorando, acha graça.
Se é contrariada se zanga, mas logo passa.
Mesmo que não diga, sei que me ama, muito e tanto.
Com ela ficarei, enquanto durar o encanto.
NO MEU MUNDO ENCONTREI UM SONHO
Meu meu mundo incauto
encontrei um náufrago
que sonha ser tulipa,
para se tornar lembrança
e poder ser esquecido,
enterrado em um igaçaba;
No meu mundo mestiço
encontrei um justo
que levava em seus braços a renúncia
por não ter mais valentia;
No meu mundo são
encontrei um velho sábio.
Não podia sorrir,
na vida não via graça.
Aprendeu tudo, perdeu tempo,
se esqueceu de viver;
No meu mundo negro
encontrei um cego
que via a vida de modo único,
de forma singular, mas perfeita;
No meu mundo esperto
encontrei um tolo
que tentava convencer um anjo
que as doces, amáveis ninfas,
são responsáveis pela guerra
travada entre o desejo e o silêncio;
No meu mundo belo
encontrei tamanha podridão
que o limbo se tornou sombrio,
e o rio, sombra e fenda de um abismo;
No meu mundo falso
encontrei uma verdade
que a muito já sabia.
A tempos não pertenço a ninguém,
a tempos me desvencilhei do amor,
a tempos me encontrei em mim mesma;
No meu mundo dividido
encontrei minha essência,
vi que minha raiz não é inerte
e nem está cravada em vaso alheio.
NOVA TENTATIVA
Quero acordar
e recordar meus sonhos,
como se um dia
eu não tivesse tido pesadelos;
Quero sorrir
e iluminar minha face,
como se um dia
eu nunca tivesse chorado;
Quero cantar
e caminhar no escuro,
como se um dia
eu não tivesse calado;
Quero dançar
na chuva quente,
como se um dia
o frio não tivesse me imobilizado;
Quero dormir
e poder te esquecer,
como se um dia
eu nunca tivesse te amado;
Quero viver,
desfrutar do presente
e esquecer que um dia
eu tive passado.
ASSIM COMO EU
Se você está sozinha
e percorre perdida
um lugar
que conhece bem;
Se você chora
a mágoa,
mas a dor
vai além;
Se o nada
é a estrada
e a esperança
fugiu também;
Conheces a fundo
triste amiga,
a voz amarga
que meu peito tem.
POEMA DELE
Teu corpo
é poesia completa,
eu busco
a maneira correta
de te recitar;
Teus olhos
são hinos profanos,
tuas mãos
são reis soberanos
prontos a governar;
Teu beijo
é luz cintilante
que mesmo
inconstante
vivo a buscar;
Teu sorriso
é minha alegria,
suave calor
que irradia.
Iluminas meu olhar.
QUANTO
Quanta dor
há em meu peito,
quanto amor
enterrado;
Quanta paixão
proibida
num coração
calejado;
Quanto desespero
no leito
sacrificado;
Quanta renuncia ...
Alma encolhida
em favor do ser amado.
MINHA CASA
Minha casa tem muitas histórias,
cada parede guarda um sacrifício.
A falta de reboco traz muitas memórias,
mas revela o quanto ainda é difícil;
O coração se abre numa carta,
revela a luta que travo escondida.
Não julgues tu, que sou ingrata,
estou cansada mas não deixo a lida;
Meu sonho nasce na esperança,
tenho a certeza de te encontrar.
Os problemas não me deixarão criança,
mas tua luz os pode amenizar;
E aguardo que teus olhos pousem nestes versos,
nessas linhas que te faço por engano,
pois num mundo de tantos corações perversos,
os sonhos fazem dos seres mais humanos.
MÃOS QUE NÃO GUARDAM NADA
Meu coração chora, se aperta...
Ante a vida que hoje vai embora,
sob meus olhos ele se liberta...
Segue as estrelas pela noite afora;
Acordo louca a procurar teu peito
para confortar essa doce agonia.
Dormir e encontrar-te em sonho,
é mais saudade do que fantasia;
E no silêncio que tua boca encerra
eu guardo a mágoa de não ser levada,
de volta ao mundo que já não recordo
para novamente ser tua linda amada;
Mas a tristeza que me cobre inteira,
não polpa a dor que no meu rosto impera.
Em minhas mãos que já não guardam nada
sinto teu cheiro... infeliz quimera.
VIDA REAL
Sentada na cama por horas
eu corro o mundo e mundo corre de mim,
esqueço a dor e o desespero que sinto
ao ver o relógio marcar o fim;
Lá fora é todo silêncio, madrugada infinda...
e aqui dentro vozes não me deixam dormir.
Já não sei por que espero teu beijo
se na ânsia de te ver eu não sei aonde ir;
Eu passo noites solitárias
velando o amor que sinto envelhecer,
me tortura o vazio da ausência,
me devora a espera a cada amanhecer;
Invade meu peito a saudade
que reflete a triste luz de uma lágrima esquecida,
em meu peito queda molhada a poesia
de quem sonha um amor que não pode ter na vida.
AMANTE
Enternece minha face triste
ante a doçura de teu beijo errante,
trocar o mundo e tudo que existe
por um segundo ao teu lado, amante;
Dor da ausência empalidece a alma,
torna em água a saudade infinda,
notas que transportam a fria calma
da melodia em tua boca linda;
E eu, que já não sinto nada
que não seja o corpo congelado,
espero o fim, ainda enamorada,
e guardo o verso que te fiz, amado;
Sobra esperança de voltar a vida
e rever em teu olhar o meu.
Na poesia tantas vezes lida
reina a certeza que não me esqueceu.
MAIS QUE HOJE
Enquanto a chuva cai
o mundo espera,
que a água leve a terra
e nos deixe a calma;
Que toda família
não sofra a falta,
que não chore o pão
que virá um dia;
Que o frescor de um beijo
não seja a lágrima,
que não seja a dor
uma marca eterna;
E que todo amor
tenha mais desejo,
que seja um pouco
do que eu quis um dia.
CORAÇÃO SE APERTA
Eu não vejo o dia
tão azul quanto eu queria ver,
eu podia azular o céu
e não ver nada acontecer;
Eu deveria fazer força
para enxergar o que todo mundo vê,
mas meus olhos gritam
que eu não sou você;
Eu não sei o que é viver
escondendo a dor que a vida trás,
eu podia aprender a engolir a dor
e rir um pouco mais;
Eu deveria me punir por não saber
te amar sem lágrima, sem medo,
mas o coração não muda,
se aperta em segredo.
ESTRANGEIRO
Sou mais um corpo
solto no mundo,
um vulto esquecido
nas ruas sujas
onde jorra o desespero.
Sou mais um rosto
vagando perdido,
apenas mais um ferido,
somente mais guerreiro.
SEGREDOS
Carrego da vida os pesares
que muitos fingem não ter,
canto em meus versos a dor,
irmã da que cobre teu ser;
Meus olhos cheios de mágoa
não contam tudo que sentem,
sob a noite eles choram baixinho
a verdade que todos mentem;
Passar a vida a negar
o amor que explode indolente
em cada pétala de flor
que desabrocha livremente;
Segredos que cobrem meus beijos,
protegem meu coração...
soluça o verso tranqüilo
ao compasso de triste canção.
DESEJO DE SER NORMAL
Amanheceu lá fora,
mas aqui a escuridão demora,
se arrasta pelos cantos,
preguiçosa como a saudade;
O sol que invade
ilumina as frestas
e alardeia o novo dia,
empalidece o rosto meu;
As flores que sob a brisa
se desmancham em cores,
roubam as luzes dos olhos
mais apaixonados....
Mas aqui... tudo é frio...
Em meu corpo nem o calafrio é real.
Só resta em mim
o desejo de ser normal.
ESCREVO
Escrevo por não ter mais serventia
lançar a voz contra o vento,
escrevo por não mais ter valentia,
por ser infeliz por dentro;
Escrevo por paixão...
daquelas que consomem a gente inteira,
E mais ainda pela solidão...
Que vida a fora nos pega de bobeira;
Escrevo só...
Mas muita gente sente a mesma
emoção que me atormenta
Escrevo por não caber em mim
essa líquida esperança,
essa vida paralela que a mente inventa.
POESIA QUE CURA
Eu recolho palavras
e as acolho entre os dedos.
Eu me entrego no escuro,
eu escolho esperar...
No compasso do tempo,
num ritmo lento
eu as sinto chegar;
E as palavras tropeçam,
recuam faceiras,
e depois da canseira
surge um novo luar
Vai além da resposta...
que o silêncio revela
eu sequer tenho um dom...
Acredito apenas na dor
que a poesia alcança,
na cura de uma lembrança,
onde a voz não pode chegar.
FOLHA DE PAPEL
Espelho que reflete a minha dor,
que acolhe toda minha alegria,
a ti consagro horas de silêncio,
em ti mergulho em doce fantasia...
Dedico cada letra, cada verso...
(feliz tristeza que brota da poesia)
a um amor que trago como certo
e esqueço ao som de nova melodia;
A voz se cala, o olhar congela...
surgem palavras que se fazem escolhidas.
E o sentimento traz à tona as memórias
que surgirão ou que já foram lidas;
Mas cada folha guarda uma riqueza
que sempre se renova, nunca é repetida,
embora todas guardem essa saudade,
essa ânsia de amar que levo pela vida.
NÃO BASTA
Na lentidão das horas que espero,
na maldição que se prolonga no olhar,
eu sinto a vida que se esvai faceira,
terna beleza a me abandonar;
Sonho ser a mais longa tarde
que compartilha o fim do novo dia.
Se mais alta que o céu que cobre
e assiste impávido a covardia;
Ser mais forte e fria que a dor,
perder na calma toda essa agonia.
Ser mais doce que a infeliz lembrança
de quem te guarda numa fantasia;
Ser mais que tudo e já não ser nada
quando a razão me voltar a mente.
Ser o que sou... o que já não te basta.
Amor que choro num canto silente.
JOGO
O mundo tortura o corpo,
o corpo comprime o ser,
o ser sufoca a alma,
a alma atropela a razão,
a razão encarcera os sentimentos,
os sentimentos vão ao encontro,
no encontro busco a resposta;
A resposta tortura o encontro,
o encontro sufoca os sentimentos,
os sentimentos atropelam o corpo,
o corpo encarcera a alma,
a alma busca o ser,
o ser vai a razão,
a razão comprime o mundo;
Os sentimentos buscam a resposta,
a resposta encarcera o ser,
o ser tortura a razão,
a razão comprime a alma,
a alma atropela o mundo,
o mundo sufoca o corpo,
o corpo vai ao encontro;
A razão encarcera o corpo,
o corpo tortura o ser,
o ser comprime o mundo,
o mundo vai ao encontro,
o encontro atropela a alma,
a alma busca os sentimentos,
os sentimentos sufocam a resposta que mutila meus sentidos.
PENSAR
Pensei que fosse amor,
assim chamei um dia
a dor que se instalou
e em meu peito pungia;
Pensei que talvez fosse...
Essa chaga mal curada
que me cansou os passos,
me fez mais longa a estrada;
Pensei que um dia pudesse ser...
Essa loucura prometida,
não mais a lágrima de dor
acompanhando tua despedida;
Pensei que o sonho não ardia
e coração podia acreditar
que pensar é mais que uma arte,
mas hoje sei que sofrer não é amar.
NÃO POSSO TE ALCANÇAR
Quão grande a distância
que separa essas bocas
que não podem se encontrar.
O tempo faz mais triste
o tormento que sinto
por não poder lamentar.
Queria ter de volta o sonho
que embalasse teu rosto
que por desgosto não posso achar.
O escuro faz mais sentido
esse grito espremido,
que já não pode te alcançar.
A VIDA E O AMOR
A vida é boca sangrenta
a nos prestar lições de boa conduta,
é freira que prega a moral
e se porta feito uma prostituta;
Amor é a ilha de sonhos
que se cerca de um mar de tormenta,
é silêncio que aumenta o frio
da comida que não alimenta;
A vida tem preço de ouro,
mas vale menos que uma banana,
é segurança de porta sem chave,
é garantia de quem se engana;
Amor é um jogo duro
que não aceita qualquer barganha,
é um velho que pede esmola,
mas não deseja menos que uma façanha;
O amor que sinto por ele
é tão distante, é menos que uma relação.
O fio que me liga a vida
é tão tênue, é menos que uma ilusão.
PRISIONEIRO DO TEMPO
Tu és a dor de um momento,
o grito de um louco sentimento.
Tudo que não se fez pó;
Tuas palavras lindas e vazias
atravessam noites,
correm dias a fugir de nós;
Tu corres aparvalhado
lhe corrói o medo
e mais anda o segredo preso ao peito teu;
Tuas mãos brancas e frias
perseguem o nada, lembranças sombrias...
Amarram-te os nós;
Tu és então prisioneiro do tempo.
Meus beijos levados no vento
não te fazem menos só.
NÃO ACABOU
O tempo não cura
as chagas de amor,
a distância não livra
do resto da dor;
As lágrimas não apagam
os erros do passado,
a tristeza não liberta
do olhar assombrado;
A maldição não atinge
um corpo feito de ilusão.
O ódio cresce
no canteiro da paixão;
Não se sabe direito
que sentimento restou,
a certeza que fica
é que não acabou.
À MEU FILHO
És tu, flor da minha essência
que traz a vida
em teu riso de inocência
e faz rolar cada lagrima contida.
És tu, irmão de minha alma,
um sonho embalado.
Em tua face mora a calma
e o desejo realizado;
És um grito banido,
um lugar encantado
neste corpo sofrido;
És um desejo sincero,
meu filho amado.
És alguém que espero.
MUITAS VEZES
Muitas vezes eu choro sozinha
por lembranças das quais não recordo.
Quantas noites em soluços acordo?
Quantos dias são para mim solidão?
Muitas vezes disse ao silêncio
quanta falta faz seu beijo negado.
Quantas cartas eu tenho guardado
que oprimem meu coração?
Muitas vezes eu ando liberta
a procura do cárcere que me caiba.
Quantos morrem sem que eu saiba?
Quantos amores são apenas paixão?
Muitas vezes eu uso mentiras
por não saber o que seja verdade.
Quanta dor é saudade
de uma inútil e feliz ilusão?
CINZAS DE SAUDADE
Sentir teus beijos nas lágrimas
que percorrem meu rosto num longo caminho.
Rever a sombra de teu riso em cada boca
que meus lábios pousam, procurando carinho;
E nos desejos que me fatigam
sentir teu vulto que resiste ao tempo.
A cada gesto ouvir-te os gritos
na explosão do vento;
Relembro em ti o que em mim morreu,
nessa tortura de viver cada novo dia,
nas cinzas da saudade a esperança é pura poesia;
Olhos ao longe aguardam teu regresso,
atravessam a noite a soluçar no vago.
Em minha boca existe apenas um gosto amargo.
TENTEI NÃO TE AMAR
Tantos dias te levo calada,
horas de doce solidão,
tantos medos tenho guardado
em beijos que se fazem refrão;
Já não vejo o fim dessa dor
tão quente a rolar pela face.
Já não sei se eu morro de amores,
ou se o amor em meu seio renasce;
Saudades de um dia feliz,
segredos que quis
pra sempre ocultar;
Lembranças de um erro mortiz,
certas coisas que fiz
para tentar não te amar.
PARA QUE EU ME ACHE
Procuro esconder
nas lindas flores,
as dores tão amargas
que há no fim;
Procuro me perder
nos longos beijos
e fingir desejos
que eu não quis para mim;
Procuro no caminho
do teu rosto,
ter de volta o gosto
do que eu não vivi;
Procuro em cada parte
do teu corpo
um novo porto,
para que eu me ache enfim.
NOITES DE AMOR
Se foram teus olhos
que me tiraram a paz
e me fizeram capaz
de amar-te quando não devia;
Se foram teus lábios
com beijos profanos,
a plantar os enganos
do amor que nascia;
Se foram tuas as mãos
que colheram desejos
e abafaram os lampejos
do ser que morria;
Se também foram tuas
as minhas vontades,
direi a ti serem mais que verdades
as noites de amor em que te pertenci.
SÓ EM MIM EXISTES
Não ouso mais
olhar-te nos olhos,
pois que uma imensa dor
transpassa-me inteira;
Sinto cruzar em mim
ecos dos beijos teus,
que zombam dessa minha triste saudade;
Não és senão um invasor
a deflorar-me as ilusões,
a castigar-me com tua ausência;
Estás plantado em meu peito
de forma tão profunda e forte
que a mim parece
que deveras só em mim existes.
VESTIGIOS DO ANTIGO
Na sala fria, de cores claras,
silenciosa lembrança do que um dia impressionou.
Sombria calma me enche de mágoa,
transborda em meu peito a dor;
Foi-se a ânsia de ser amada,
e até os fantasmas de quem passou
já não se escondem entre os meus medos,
não mais se arrastam no corredor;
Viver nas sombras
de um sonho morto
se ainda respira o confuso amor;
Escondo o riso de desespero,
ao me fitar no espelho
e ter certeza do que eu sou.
PRECISO DE VOCÊ
Ilumina-me os dias
que sem ti são tão escuros.
Acalma minhas noites,
faz-me os sonhos menos duros,
pois que já é tão penoso
não ver-te em meu futuro.
Pois já é muito castigo
não encontrar-te onde eu procuro.
PREGUIÇA
Nada é claro,
até o céu está confuso
e mesmo as flores
enlouquecem...
Nada que respira
me inspira confiança
e apenas de lembranças
eu consigo viver...
QUERO APENAS TE AMAR
Quero estar...
no que ainda restar,
em qualquer sentimento.
Teu sorriso ou lamento
eu hei de velar;
Quero cantar
com voz doce em teu ouvido
melodias de grande beleza,
retirar toda incerteza
que teu coração possa guardar;
Quero abraçar os teu medos,
testar tua generosidade,
quero aguçar tua vaidade,
contar mentiras e verdades.
Quero apenas te amar.
IDOLATRIA
Em meio às sombras
amei teu vulto,
e para mais amar
todo insulto eu relevei;
Eu fiz da dor
o meu segredo
e no suplício de esperar
a flor do medo eu cultivei;
Minha boca
precisou teu beijo
e ao enganar o meu desejo
eu me enterrei;
Eu fui o anjo
que escolheu o fogo ardente
e se perdeu no fulgurar de teu olhar candente.
Deliberadamente eu pequei.
O DIA EM QUE TUDO ACABOU
Morrerei em ti,
em todos os encontros
que tivemos
às escondidas;
Morrerá em mim
o teu beijo envenenado
por nova despedida;
Morrerá por mim
as lembranças,
a saudade
e as lágrimas infindas;
Morrerá por ti
o ódio do momento
afogado na bebida.
FALTA DE AMOR
Eu não vejo o valor da loucura
na febre de um beijo,
o teor da procura
de um doce desejo,
o sabor da frescura que cobre teu corpo;
Eu não sinto teus dentes
rasgando a vergonha,
a verdade que mentes
na boca risonha,
tuas mãos quentes
a devorar-me o sonho;
Eu não sei o prazer com que feres
um corpo qualquer,
os beijos que queres
são de outra mulher,
nem o amor que proferes
eu sinto eu mim;
Que fazer desse amor,
que é o meu drama,
és causador da minha dor,
mas meu ódio acaba na cama,
quando teu doce sabor
se mistura com o meu.
ANESTESIA
Meu corpo estendido
aguarda o fim do pensamento,
braços comprimidos seguem mais leves,
não sentem o frio do vento;
O tempo passa e obedece seu próprio relógio,
o olho se fecha sem que eu possa impedir.
Vozes caminham longe,
encontram oca minha cabeça;
Dor passageira, me leva pela mão,
curta e ardente picada
me faz estrangeira no meu chão;
Membros que seguem em líquida fantasia,
ausência de um eu,
perdido na irresistível inércia... anestesia.
SOZINHA
Estás tão longe
e ainda te sinto
em cada parte viva
em meu corpo.
O coração se prende ao pouco
da saudade que em mim sobrevive.
Meus secos lábios
te buscam incessantes,
navegam nas nascentes
que jorram do teu riso.
Procuro teus olhos
nos versos antigos,
me abrigo entre amigos,
espero você,
mas foge-me
como espessa névoa
ao espreguiçar do sol.
O QUE SÓ EU VEJO
Eu guardo meus sonhos de infância
como doces que de bem escondidos foram esquecidos.
Eu guardo um caderno de versos
que levam poemas que não foram lidos;
Eu guardo o primeiro amor
como uma lição linda e inútil.
Eu guardo bilhetes de cinema
e tenho manias de menina fútil;
Mas as figuras que eu via no teto
me rondavam sempre
e eu tinha apagado;
Elas voltaram e ainda me transportam
para um lugar escuro,
para o meu passado.
A SOLIDÃO DE TODOS NÓS
A casa está vazia,
só escuto o relógio marcando
o tempo perdido.
Sinto uma calma inquietante;
O sol se esvai na tarde
que queda sempre ausente
alheia ao que lhe fora permitido.
O nada vira o todo num instante;
O vento torna fato
o sal que vem do mar
e que transforma toda areia.
Embala meu peito num passo largado;
Da janela eu vejo a dor na imensidão do céu
cobrindo de silêncio a mesma solidão
pungente em todos nós.
O entardecer de mais um condenado.
RUMO
Ainda me perco
entre o norte e o sul
percorrendo a praia
rumo ao paraíso;
Ainda sinto a areia
me queimar os pés
estalando os dedos
sem fazer barulho;
Eu navego longe
seguindo as estrelas
e ao retornar junto com as conchas
conto o prejuízo;
Coração tranqüilo
morre em sangue o sol
e eu guardo o gosto
de estar perdido.
VIDA QUE FOGE
Queria teus olhos tranqüilos
para mergulhar todas as mágoas
que molham meus lábios
com estas frias águas
que o coração nem vê cair;
Queria teu riso inocente
na boca risonha,
teus dentes em minha pele
rasgando a vergonha
que se abre em flor de desejo;
Mas a vida nos foge a vontade
e castiga quem vai embora
com um tempo que não sabe aonde ir.
Saudade que entristece esta hora,
distância que faz incerto o porvir;
Vontades que surgem com a noite,
lembranças que morrem com o dia
tão cheio de tribulações
e ausente da tua alegria.
Meu verso tem sede de um beijo.
Todas as poesias apresentadas nessa página são de minha autoria, Natália Souza, e fazem parte do livro "Versos de Silêncio". Se você gostar pode me prestigiar comprando no site da editora Protexto (www.protexto.com.br).
Só peço que se for copiar alguma, cite a autoria e a fonte.
Muito obrigada pela visita.